Semana Moderna de 22: filhos, netos e bisnetos na arte pernambucana

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O hino de Pernambuco já proclama que o estado é o coração do Brasil, “fonte de vida e da história". Essa relevância é plural e, claro, ao se celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna, movimento que revolucionou a cultura do País, constatamos a importância do Estado, sempre conectado com a vanguarda e com o rompimento de padrões.


A transformação estética que o pernambucano Vicente do Rego Monteiro impôs com suas obras, nos idos de 1922, juntamente com muitos outros artistas plásticos, como Anita Malfati, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, deixou uma herança que perpassa gerações e que pode ser conferida na Arte Plural Galeria (APG).


Herança - “Tenho em Vicente do Rego Monteiro uma grande referência e creio que a Semana de 22 e seus desdobramentos mais imediatos - Manifesto Pau-Brasil (1924) e o Manifesto Antropófago (1928) – nos influenciam até hoje”, diz o artista plástico Renato Valle, há mais de 45 anos entregue às telas e pincéis. Ele reconhece na obra “Solaris” (óleo sobre tela, 150 x 250 cm. 2018-2019) um exemplo dessa conexão, que aparece mais em sua pintura do que nos seus desenhos ou esculturas.


A Semana de Arte Moderna, que na verdade foi um evento de três dias, 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, trouxe a renovação da linguagem, liberdade criativa e novos conceitos artísticos. Sem dúvida, veio no esteio da vanguarda europeia, que à época já experimentava o expressionismo, o futurismo e o cubismo, com nomes como Picasso, Miró, Léger, entre outros expoentes.


Alumbramento - Múltiplo, o desenhista, gravador, pintor e arquiteto Luciano Pinheiro, se incorporou à fundação de um dos movimentos culturais mais importantes do estado, a Oficina Guaianases de Gravura (1975-1980), e confessa a forte influência da arte moderna no seu trabalho. “Não a da Semana de 1922, mas a que já se fazia na Europa”, conta, lembrando que só no início dos anos 1960 passou a ter contato com a arte moderna que se fazia na Europa e no Brasil, através de duas aquarelas de Cícero Dias.


Ele conta que sua família não tinha tradição nas artes e, portanto, somente aos 16 anos começou a entrar em contato com o trabalho de Cícero Dias, Samico, Aluísio Magalhães, Adão Pinheiro (que destaca, sempre, não é seu parente) e Maria Carmen, e também por meio de livros na maravilhosa biblioteca do escritor Gastão de Holanda.


“Foi aí que descobri minha vocação para as artes”, recorda. Daí para frente, assumiu os pincéis e as telas, tomando consciência de que poderia fazer arte de uma forma diferente. “Deste 'alumbramento', nasceu este artista, cercado de arte moderna por todos os lados. 'Modernismo na veia', mas a partir de artistas pernambucanos e europeus", completa.


Novas gerações – O efeito dominó da Semana de 22 é percebido, por exemplo, pelo artista pernambucano Rinaldo. Sem meias palavras, confirma o que se observa em seus trabalhos. “Sem dúvida, há uma grande influência dos modernistas de 22 na minha arte. Esse movimento foi um parâmetro para termos a definição do que é arte brasileira”, explica.


Ele faz questão de ressaltar que Pernambuco esteve presente nesse momento, carregando princípios que os filhos da terra carregam em suas mais diversas atividades, em especial nas artes: a busca pela originalidade do tempo, da terra, do espaço.


De uma nova geração, fala que suas obras têm a influência de consagrados como João Câmara e Francisco Brennand, que deram força ao figurativo, com uma nova abordagem modernista, abrindo espaço para que ele hoje use elementos simbólicos e expresse figuras humanas, tal qual Tarsila do Amaral apresentou no Abaporu.


"A arte moderna é inspiradora. E o artista um comedor de mundos. Um colecionador de imagens e inspirações", explica a artista plástica Dani Acioli. Ela fala avaliando a perspectiva da importância da quebra de padrões na vida, “pois entendo que devemos nos libertar de regras para criar, que é pressuposto para existir”.


Com essa visão, ela reconhece que a arte passa por uma maturação de significados, estética, simbolismos, repertórios e narrativas, abordagens que a Semana de 22 pautou. “O olhar de hoje é outro, mas a direção é clara: a criação precisa ser livre, sempre”, completa.


Os trabalhos desses artistas podem ser conferidos na APG, a partir do dia 03 de março, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; e aos sábados das 14h às18h. Informações pelo WhatsApp (81) 9.8861.7198.


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