Sala de (re)trato
Suzana Azevedo
Maio a Julho de 2016
O vestido se move como uma vela ao vento.
O tecido, cetim, ainda está íntegro, mas amarelado. Costumava ser branco como a neve. A renda, esgarçada, rompeu o compromisso um dia firmado com a perfeição. O tempo faz isso: transforma tudo em outra coisa, às vezes tão outra coisa que a gente pensa que desapareceu. Mas, não, está lá. De outra forma, lá. Este é o ponto de partida adotado pela artista plástica Suzana Azevedo em sua exposição Sala de (Re)trato. Ao contemplar a indumentária, pensamos naquela que um dia envergou o traje de alcova - sua avó - especialmente para a noite de núpcias, e enveredamos por mais uma trilha: o sagrado feminino. Os rituais simbólicos de ruptura, física, social, emocional, guardados sob a forma daquele troféu. Um objeto carregado de ressonância, que será ressignificado pelas mãos e olhar da artista. Na tarefa de recompor suas memórias, Suzana Azevedo recorreu ao baú, aquele móvel no qual guardamos as coisas que, embora tenham perdido espaço para o cotidiano, ainda hesitamos a respeito do seu descarte puro e simples. Guardamo-as fora da vista, mas mantemos intacta a certeza de que elas ali ficarão, quietas, silenciosas, à espera da nossa vontade cíclica de revisitação, de reabastecimento do fluxo fluido de lembranças. (...)