Falar Imagens. Ver Palavras.

Fazer uma exposição coletiva é mediar uma conversa entre desconhecidos. Não porque eles, os artistas, não se conheçam, mas porque não sabem qual será a fala/imagem do outro. A comunicação é primordial para nós, seres humanos, a forma e o que comunicamos são capazes de construir, tanto quanto são de destruir: sentimentos, relações, sociedades inteiras.

Retornando aos primórdios, temos o Mito de Eco e Narciso, o mito fundador das palavras e das imagens, onde ambos morrem por não conseguirem estabelecer uma comunicação entre si.

Narciso, um bonito e jovem caçador, se apaixona pelo seu próprio reflexo na água, acreditando que aquela imagem seja de outra pessoa e assim, se afoga, tentando ir em busca dessa imagem que retorna a ela mesma. Ao passo que próximo dali Eco, uma bonita mulher, vê e se apaixona por Narciso e tenta declarar o seu amor, mas Narciso não a escuta, porque a palavra de Eco sempre volta para Eco, até que ela se transforma em pedra. Aí habita a divisão existencial entre palavra e imagem, pois elas nunca coincidem plenamente e é nesse espaço entre que a arte se constrói.

“Cada palavra potencialmente é uma imagem. Cada imagem potencialmente é uma palavra.”

(Oramas)

Foi, com esse pensamento que observando as imagens aqui dispostas, me perguntei: O que essas imagens estão tentando falar? Para quem? De que forma? Com que intenção? E lendo as palavras que existem nelas, seus títulos, os escritos dos artistas, imaginei: Que formas têm essas palavras? Que outras imagens elas me trazem? Que vozes carregam?

E ao me questionar, um mundo novo e subjetivo de possibilidades se abriu e continua a se abrir para mim a cada vez que revisito uma palavra ou uma imagem, o encontro ou o desencontro entre elas. E assim, espero e desejo, que aconteça também com vocês.

A relação das imagens/palavras entre si constrói ademais, um terceiro elemento que é a narrativa e a cada nova forma de combinação, de sequência, construímos uma narrativa diferente. Assim como em “O Jogo da Amarelinha” de Júlio Cortázar, em que o autor sugere ao leitor diferentes opções de ordem de leitura das páginas do livro para experimentar outras possíveis estórias, deixo aqui essa sugestão de brincadeira à vocês. Experimentem, vejam, leiam, escutem, sintam, fruam, permitam-se.

Se encontrem e/ou se percam na poesia desse encontro entre imagens e palavras, entre diferentes poéticas, entre vocês e os outros e o mundo e a arte e...

 

- Bruna Pedrosa

 

Catálogo da exposição